terça-feira, 15 de agosto de 2006

Obikwelu

É com agrado que vejo os resultados dos atletas portugueses no Campeonato Europeu de Atletismo em Gotemburgo. Sendo um país com poucas infra-estruturas para a prática destas modalidades, julgo que, perante os resultados alcançados, temos de reconhecer o valor dos atletas, seu esforço e dedicação. Pertencendo a um país tão futebolístico, estes atletas têm duas saídas: vão treinar para fora, como é o caso de Obikwelu que desenvolve o seu trabalho em Espanha; ou "arranjam-se" como a antiga lançadora Teresa Machado que treinava nos parques de estacionamento, nos seus tempos livres.
Contudo, e sendo verdade que as condições já foram piores, um dia um especialista na área afirmava que eram precisamente essas adversidades no treino que fizeram de Portugal uma potência no corta-mato, maratona e outras corridas de fundo pois são modalidades que qualquer pessoa pode praticar, independentemente da sua condição social ou acesso aos equipamentos.
A propósito, já imaginaram se em ver de correr, Francis Obikwelu fosse futebolista? Inicialmente, quando tentasse obter a nacionalidade portuguesa e fosse escolhido para representar o país, caíria o Carmo e a Trindade. Para muitos seria a besta que estaria a impedir o vingar dos valores de facto nascidos em Portugal. Depois, quando obtivesse grandes resultados, seria bestial, aclamado, condecorado, feito herói nacional e protagonista de anúncios cheios de músicas irritantes para a TMN, Galp e Sagres.
Como Obikwelu pratica atletismo, os portugueses são mais comedidos. Não há bestial nem besta.

1 comentário:

Anónimo disse...

A propósito, foi com grande tristeza que assisti ao desrespeito por aquele que é o melhor velocista da Europa. Quem acompanhou a sua corrida dos 200m de certo reparou o aparato que se desenvolveu em redor do segundo classificado. O corredor da casa, que ficara em segundo lugar, teve bem mais atenção por parte dos fotógrafos do que a nossa "gazela". O dito alvoroço elevou-se ao ponto de empurrões e indiferença. Compreendo que a corrida do sueco foi interessante e que uma vez a jogar em casa o entusiasmo era bem maior, no entanto não gostaria que tais atitudes se passem no nosso país caso fosse o organizador! Apesar da alegria, o nosso herói não escondeu o desconsolo.
O meu reconhecimento teve e têm todos aqueles que com orgulho representam o nosso país.