terça-feira, 1 de agosto de 2006

O povo é que se lixa

O que se passa actualmente no Líbano é mais um triste episódio numa zona cujas populações civis têm vindo a ser o principal alvo nas últimas dezenas de anos.
De um modo muito geral, pois este assunto dá pano para mangas, considero que Israel é um estado com práticas terroristas, o Hezbollah um grupo terrorista a destruir e fantoche de outros, os dirigentes palestinianos uma cambada de corruptos (é só ver a fortuna do falecido Arafat) e coniventes com o terrorismo, o Irão e a Síria dois estados que apoiam o terrorismo, sendo o primeiro governado por um conjunto de populistas e ignorantes que se tentam afirmar ao condicionar a agenda internacional. À festa já se juntaram os comunicados da Al Qaeda (curiosamente inimiga mortal do Hezbollah) contra o Ocidente.
No fim, e como sempre, quem se trama é o povo. Judeus, xiitas, sunitas, critãos, etc., é que sofrem com a violência.
Se se ganham as guerras com armas, não deixa de ser verdade que sem o elemento político a vitória e a paz não podem ser plenamente alcançadas. Certamente que Israel tem o direito de se defender da violência de que é alvo. Mas não usará meios desproporcionados? Não devia também trabalhar em prol das condições de vida das pessoas que vivem na Faixa de Gaza? O que na realidade acontece é que sempre que sofre ataques, Israel retalia monstruosamente afectando sobretudo as populções civis. Veja-se o que se passa em Gaza, em que um vasto leque de infra-estruturas básicas como centrais eléctricas, hospitais, redes de água, que são em grande parte financiadas pela União Europeia, acabam destruídas pelos ataques indiscriminados de Israel. A isto juntam-se pais, mães e filhos que viram os seus familiares a serem mortos, os territórios ocupados por colonos, condições de vida péssimas, abundando o desemprego, a pobreza, a destruição do meio ambiente, dos transportes e da capacidade produtiva.
Esta é a realidade quotidiana dos Palestinianos e das suas crianças que, crescendo neste meio, são presas fáceis para engordar as hostes dos grupos terroristas. Imaginem o que era viver num ambiente destes, cheio de violência e sem perspectivas de futuro, aderir às Brigadas dos Mártires Al Aksa para vingar um irmão até poderia ser algo tentador.
Julgo que Israel deve procurar um caminho alternativo para a paz, nomeadamente tentar melhorar as condições de vida dos Palestinianos, evitando o recurso a força desmesurada. Estando a população palestiniana mais satisfeita, o apoio aos extremistas será menor. Julgo que o apoio aos terroristas é fruto da reacção e não de uma natural convicção. Todavia, reconheço que não é fácil a Israel encontrar o interlocutor mais apropriado para proceder deste modo e, mesmo quando as coisas parecem bem encaminhadas, acontece sempre algo, certamente provocado por quem tem interesse, que altera a situação, como foi o caso do rapto dos soldados.

No Líbano, Israel está de novo a actuar desmesuradamente. As vítimas civis são numerosas graças aos ataques aéreos, centenas de milhares de deslocados, utilização de armamento que pode ser danoso para a saúde das pessoas a longo prazo, a actividade económica paralisada e afectada no futuro graças a destruição dos equipamentos e de fontes de riqueza como as praias poluídas pelos navios de guerra e pelas explosões em refinarias. A impressão que dá, apesar das palavras de lamento pela destruição colateral, é que querem varrer o mais possível o país.
Como resultados temos um país a ser destruído, crianças a serem mortas, o apoio do Hezbollah cresce junto da população (quando nas últimas eleições tinha tido apenas 10% dos votos) e este começou a presentear Haifa e arredores com os mísseis, gentilmente cedidos pelo Irão e pela Síria.
Até onde o governo israelita está disposto a ir contra o Hezbollah? Só um ataque terrestre em massa trará reais proveitos no desmembramento dos terroristas mas provocará imensas baixas. E será que o que está a acontecer não levará ao incremento das fileiras dos grupos terroristas? Não seria mais proveitoso que em conjunto com outros países, nomeadamente muçulmanos moderados, tentar um entendiamento junto do governo libanês de modo a isolar e diminuir a expressão Hezbollah?

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