domingo, 29 de outubro de 2006

Música


No Público de hoje vem um interessante artigo sobre a forma como os múltiplos suportes e formatos estão a alterar o consumo e o percepcionar da música. Para além da sua posse estar à distância de um clique, conscientemente ou não, lidamos com ela em grande parte do nosso quotidiano. Está presente na publicidade, nos inúmeros canais de televisão que lhe são dedicados, nos telemóveis, a moldar o ambiente em comboios, nos centros comerciais, no nosso carro e nos já indispensáveis leitores de mp3. Com isto, e como refere o artigo, felizmente as pessoas têm hoje muito mais oferta e possibilidade de escolha, estando o acesso facilitado. Por outro lado, para além de existir muito lixo, a relação do público com a música pode estar a tornar-se menos profunda, sem grande exploração do seu valor e do artista, prevalecendo uma relação de ouvir e deitar fora (ou esquecer no disco até ser formatado), diminuindo os fenómenos de fidelização. Segundo alguns dos citados no texto, actualmente com estas facilidades as pessoas coleccionam gigas de música em vez de a ouvir.
Pessoalmente, julgo que esta facilidade de acesso à música é óptima. Lixo sempre existiu e sempre existirá e quem o consome e produz tem todo o direito de o fazer. O problema põe-se ao sermos obrigados a ouvi-lo quando estamos numa superfície comercial ou num comboio. Outra das vantagens do panorama actual é a possibilidade de muitos artistas de valor poderem divulgar as suas criações sem estarem tão condicionados pela acção das editoras, agentes e outras mentes iluminadas e endinheiradas. Outro aspecto positivo é o de, com estas novas formas de contacto, ser mais fácil desenvolver gostos musicais heterogéneos nas pessoas, acabando com determinismos como "só ouço hip hop" ou só ouço metal". Por fim, ouvir música anda mais barata.
Contudo, concordo com a afirmação de se andar a coleccionar em vez de ouvir. Muitas vezes tenho esse comportamento. Ouço uma banda. Gosto logo descarrego. Depois vejo as suas influências e projectos paralelos ou similares. Descarrego. E assim sucessivamente. Neste percurso acabam por ficar inúmeros álbuns perdidos em DVDs, discos e leitor de mp3.
Neste contexto no qual as relações com as criações são cada vez mais rápidas, tenho também receio que o conceito de álbum enquanto obra composta desapareça (Dark Side of the Moon ou Lateralus).

Só um pequeno apontamento:
Alguém me pode explicar a razão de neste tipo de artigos pessoas, com maior ou menor responsabilidade, estarem constantemente a referir o Ipod? Pelo que ouço e leio parece que IPod é igual a qualquer outro leitor de mp3. São muito bonitos mas há produtos de outras marcas com mais capacidade, mais baratas, melhor som e mais simples de usar.
Já quando foi aquela história dos mp3 e direitos de autor (alguém recebeu alguma cartinha como eles advogaram?) fizeram uma publicidade louca ao iTunes. Até puseram um maestro a dizer que dava ao seu filho 50 euros para ele comprar música legalmente nesse serviço. Também há outros formas de comprar música digital, ok?

2 comentários:

magnuspetrus disse...

A imagem pareceu-me genial.

Anónimo disse...

Há dias o Álvaro Costa referiu na RTP que se o Miles Davis ainda fosse vivo estaria trabalhar com Hip Hop.