sábado, 3 de janeiro de 2009

Indisposição, obsessão ou fantasias goradas

Exmo. Senhor Richard Gere, Há muitos anos que estou para lhe escrever esta carta, mas cada vez que a releio penso que não vale a pena, que se calhar estou enganado e que, provavelmente, o senhor nunca a vai ler. Desculpe começar de forma tão abrupta mas há já muitos anos que tenho vontade de lhe dizer que o detesto. Detesto-o porque já gostei de si, detesto-o porque há demasiada gente a gostar de si e porque acho que o senhor fez muito poucos filmes que se aproveitem. Permita-me dizer-lhe com toda a frontalidade, que o senhor está no mesmo panteão que um tal Kevin Costner, com direito a estátua e tudo. O panteão dos actores mais pirosos e insuportáveis. Um dos principais problemas que tenho consigo, senhor Gere, é que – em tempos – até me agradou. Eu vi “An Officer and a Gentleman” antes de “American Gigolo” e gostei de ambos. Na altura queria ser como o senhor. Gigolo entenda-se, que soldado nunca foi coisa para a qual eu me sentisse virado. Admirei o seu porte esbelto, a sua atitude masculina e o ar permanentemente aborrecido. Nessa altura, Simon LeBon dos Duran Duran fazia poses com a mesma expressão de estar a apanhar seca e gostava. Eu também gostava. O facto de o senhor não mudar com a passagem dos anos foi o que me incomodou. Eu sei que a sua bela cabeleira foi-se tornando grisalha, mas a expressão facial manteve-se, oscilando entre sério, aborrecido ou aborrecido com um sorriso (no caso em que alguma mulher cruzasse o caminho da sua personagem). Acho que esse sorriso foi melhor imortalizado por Truffaut, mas há registos dele em várias cenas de “Pretty Woman”. A partir daí foi sempre a descer, senhor Gere. Tive de o aturar em vários filmes que não aconselho nem a um ceguinho. Tive de aturar “First Knight” em que nunca me ri tanto a ver o bravo Lancelot! E tive de levar a minha namorada a ver o xaroposo “Autumn in New York” que me tirou a vontade de regressar à mais fabulosa cidade do mundo durante anos. Ela até gostou. Chorou e no fim tive de ser eu a consolá-la. Tive mais do que uma namorada a gostar de si. Por isso é que essas namoradas não duraram muito. Elas diziam que o senhor era sexy e bonito. E gostavam do seu cabelo cada vez mais esbranquiçado, até que ficou branco mesmo. A fase mais difícil foi quando o senhor era grisalho. O meu cabelo começou há uns anos a ter umas brancas e cada vez que eu falava nisso às minhas cabelereiras elas diziam-me que era muito sensual, lembrando: “veja o Richard Gere...”. E porque é que só agora lhe estou a escrever esta carta? Olhe, por duas razões: a primeira é porque o senhor se passou com o filme “Nights in Rodanthe”. Nunca pensei que fosse capaz de fazer um filme ainda mais xaroposo que “Dr T and the Women”, mas enganei-me. Este é mesmo insuportável. O meu elevado colesterol não me permite ver filmes tão gordurosos como este. Felizmente que tinha tomado o meu Simvastatin enquanto comia um carpaccio esta tarde, senão as minhas artérias podiam ter-se bloqueado definitivamente. A segunda razão – e esta é mesmo uma questão existencial para mim – é que em “Nights in Rodanthe” o senhor se passeia num carro igual ao meu! Há aqui um problema de “casting” senhor Gere! Nem o senhor nem a sua personagem deviam sentar-se num automóvel com tantas e belas tradições. E isso nem eu nem o senhor Tata lhe perdoaremos. Atentamente, Raúl Reis"

1 comentário:

Anónimo disse...

Obrigado pela publicidade ao meu manifesto anti-Gere.
Raúl