Acho o retrato da Blondie fascinante (ler post anterior primeiro). Para além do seu carácter cómico e verdadeiro, traz-me algumas recordações e suscita-me interrogações.
Talvez por ser um pouco minimalista quanto à aparência das pessoas, não páro de questionar-me sobre o motivo que leva algumas mulheres ( e também homens) a este acto de masoquismo. O balúrdio que se gasta, o tempo perdido, a dor física, os resultados duvidosos...
Há anos que não vou a um barbeiro. A verdade é que nunca lá gastei mais do que uns 6 ou 7 euros mas desde que adoptei um penteado militar, passei a fazer o serviço em casa. Claro que para a maioria das mulheres o rapanço está fora de questão (se bem que até acho piada o visual da Sigourney Weaver no Alien ou da angelical Sinead O'Connor).
No tempo em que acreditava que iria ter uma reforma na velhice, ou seja, quando era pequeno, frequentava o salão aqui do meu bairro, nos subúrbios de Aveiro, no qual passei por ricas experiências. Recordo-me que das primeiras vezes que lá entrei, a cabeleireira virou-se para a minha mãe e disse: "Olhe, vou-lhe fazer um penteado à PANQUE (punk), espetado. Está muito na moda." Bem, isto passou-se em 88 ou 89. Naquele tempo as modas chegavam uns anos atrasadas ao bairro. Nem fiquei com mau aspecto apesar do cabelo pastoso. Claro que na escola fui logo alvo de chacota e cruelmente apelidado de ouriço para castigar a minha diferença. Mas como as minhas histórias acabam sempre bem, direccionei a raiva sentida contra aquelas mentes castradoras para os estudos. No ano lectivo de 1991/92, quando terminei o 4º ano, fui considerado o melhor aluno da minha escola primária. Se ainda mantivesse o penteado, de ouriço provavelmente passariam a chamar-me punk marrão.
As minhas idas à cabeleireira do bairro continuaram. Do penteado punk passei para o mais atinado risco ao lado que rapidamente evoluiu para o modelo Beverly Hills 90210 (risco ao lado mas com a elaborada poupinha). Foi neste período que percebi o potencial jornalístico de um salão de cabeleireiros. Óbitos, dívidas, aquisições, casamentos, divórcios, relações extra-conjugais dos habitantes locais, tudo noticiado e intensamente debatido por grandes profissionais do tricot.
Apesar deste retrato, a minha cabeleireira era alguém com grande influência junto de uma das mais altas figuras do estado da época. Sempre que lá ia, ouvia-a gabar-se de ter escrito uma carta a Cavaco Silva, na altura PM, a solicitar a atribuição de uma habitação social, tendo tido sucesso. Depois desta história vinha sempre o apelo ao voto nos laranjas.
Para além de jornalismo e de política, aquele salão foi também local de verdadeiros actos de espionagem, a recordar os animados tempos da Guerra Fria. Certo dia, enquanto passeava no bairro de bicicleta, um senhor num mercedes chamou-me e disse: "Vais ali à cabeleireira e vês se lá está uma senhora de cor (ele deve ter dito preta mas...). Dou-te 20 escudos." Se fosse hoje, tinha logo telefonado à TVI, punha uma câmara escondida... Lá fiz o jeito ao homem. Entrei no salão, espreitei e pisguei-me dizendo que me tinha enganado na porta. A senhora não estava lá mas recebi os 20 paus á mesma. Deu para um gelado de laranja da Olá.
Os tempos passaram, fiquei adolescentemente sofisticado e tornei-me cliente de um barbeiro.
Actualmente, é um universo que conheço mal todavia suscita-me profundas interrogações.
Já repararam que as cabeleiras têm sempre um cabelo horroso? Como é que inspiram confiança às clientes? Eu não arriscava. Coloquei esta questão no post da Blondie e ela deu-me uma boa resposta: elas são cobaias umas das outras.
E os cabeleireiros homens? Por que razão na sua maioria são efeminados? Será estratégia de marketing? Talvez um tipo grandalhão, de barba e braços peludos, a falar de futebol espantasse as clientes.
Talvez por ser um pouco minimalista quanto à aparência das pessoas, não páro de questionar-me sobre o motivo que leva algumas mulheres ( e também homens) a este acto de masoquismo. O balúrdio que se gasta, o tempo perdido, a dor física, os resultados duvidosos...
Há anos que não vou a um barbeiro. A verdade é que nunca lá gastei mais do que uns 6 ou 7 euros mas desde que adoptei um penteado militar, passei a fazer o serviço em casa. Claro que para a maioria das mulheres o rapanço está fora de questão (se bem que até acho piada o visual da Sigourney Weaver no Alien ou da angelical Sinead O'Connor).
No tempo em que acreditava que iria ter uma reforma na velhice, ou seja, quando era pequeno, frequentava o salão aqui do meu bairro, nos subúrbios de Aveiro, no qual passei por ricas experiências. Recordo-me que das primeiras vezes que lá entrei, a cabeleireira virou-se para a minha mãe e disse: "Olhe, vou-lhe fazer um penteado à PANQUE (punk), espetado. Está muito na moda." Bem, isto passou-se em 88 ou 89. Naquele tempo as modas chegavam uns anos atrasadas ao bairro. Nem fiquei com mau aspecto apesar do cabelo pastoso. Claro que na escola fui logo alvo de chacota e cruelmente apelidado de ouriço para castigar a minha diferença. Mas como as minhas histórias acabam sempre bem, direccionei a raiva sentida contra aquelas mentes castradoras para os estudos. No ano lectivo de 1991/92, quando terminei o 4º ano, fui considerado o melhor aluno da minha escola primária. Se ainda mantivesse o penteado, de ouriço provavelmente passariam a chamar-me punk marrão.
As minhas idas à cabeleireira do bairro continuaram. Do penteado punk passei para o mais atinado risco ao lado que rapidamente evoluiu para o modelo Beverly Hills 90210 (risco ao lado mas com a elaborada poupinha). Foi neste período que percebi o potencial jornalístico de um salão de cabeleireiros. Óbitos, dívidas, aquisições, casamentos, divórcios, relações extra-conjugais dos habitantes locais, tudo noticiado e intensamente debatido por grandes profissionais do tricot.
Apesar deste retrato, a minha cabeleireira era alguém com grande influência junto de uma das mais altas figuras do estado da época. Sempre que lá ia, ouvia-a gabar-se de ter escrito uma carta a Cavaco Silva, na altura PM, a solicitar a atribuição de uma habitação social, tendo tido sucesso. Depois desta história vinha sempre o apelo ao voto nos laranjas.
Para além de jornalismo e de política, aquele salão foi também local de verdadeiros actos de espionagem, a recordar os animados tempos da Guerra Fria. Certo dia, enquanto passeava no bairro de bicicleta, um senhor num mercedes chamou-me e disse: "Vais ali à cabeleireira e vês se lá está uma senhora de cor (ele deve ter dito preta mas...). Dou-te 20 escudos." Se fosse hoje, tinha logo telefonado à TVI, punha uma câmara escondida... Lá fiz o jeito ao homem. Entrei no salão, espreitei e pisguei-me dizendo que me tinha enganado na porta. A senhora não estava lá mas recebi os 20 paus á mesma. Deu para um gelado de laranja da Olá.
Os tempos passaram, fiquei adolescentemente sofisticado e tornei-me cliente de um barbeiro.
Actualmente, é um universo que conheço mal todavia suscita-me profundas interrogações.
Já repararam que as cabeleiras têm sempre um cabelo horroso? Como é que inspiram confiança às clientes? Eu não arriscava. Coloquei esta questão no post da Blondie e ela deu-me uma boa resposta: elas são cobaias umas das outras.
E os cabeleireiros homens? Por que razão na sua maioria são efeminados? Será estratégia de marketing? Talvez um tipo grandalhão, de barba e braços peludos, a falar de futebol espantasse as clientes.
7 comentários:
Venho por este meio demonstrar tabém o meu desagrado contra as/os cabeleireias/os. No entanto, queria salvaguardar que apesar de ir seguidamente criticar em função do estereotipo, há que alertar que há sempre muita heterogeneidade relativamente aos profissionais de qualquer área. Mas cá vai...
Também já fui vítima de maus tratos capilares! O caso mais flagrante (para não falar da poupa + franja que a minha cabeleireira me fazia quando andava na primaria), foi quando aos 15 anos saí da cabeleireira com o cabelo com umas assustadoras e grandes vírgulas laterais (frente às orelhas), revestidas a gel (com o resto do cabelo seco e curtíssimo)...cheguei a casa e só tinha uma coisa em mente....Tesoura! Bem, lidei com a situação ao andar de gorro uns meses. A partir daí nunca mais fui a nenhuma cabeleireira até ao ano passado.
Julgo que há questões que podem ser comuns nos clientes destes serviços: porque é que cortam sempre muito mais curto do que aquilo que pedimos? Porque é que nunca sai nada parecido com as fotos daqueles catálogos inúteis? Porque temos de socializar com aquelas conversas típicas? Porque é que a menina que lava cabeças é ao mesmo tempo manicure e esteticista, sem qualquer formação adicional? Porque é que só há três tipos de penteados padrão (madame, escadeado liso, e outro que não quero descrever mas que se aproxima ao que me fizeram) que são aplicados a todas as pessoas, independentemente da cara, do tipo de cabelo, e pior, dos pedidos de cada um? Porque é que quem lava cabeças nunca tem unhas pequenas como seria confortável?
Concordo com a Catarina, de facto as revistas que nos deveriam ajudar/orientar na escolher de um corte perfeito e adequado à nossa cara, ao nosso estilo, no fim não nos adiantam de nada! Provavelemnte são estarão lá para ir alimentando os nossos sonhos, enquanto esperamos de ser atendidas. Na verdade as cabeleireiras nunca cortam como nós, tão crentes, pedimos.
Ainda existe outra situação curiosa que me esqueci de referir: O PAGAMENTO! Quando vamos a pagar por aquilo que não foi desejado por nós, ainda nos apresentam variados produtos (caros), fazendo-nos acreditar que a partir daquele dia não somos capazes de sobreviver sem eles e que se não os comprarmos algo de muito mau, catastrófico inclusivé, vai acontecer ao nosso cabelo. Que pressão!! :(
*na escolha
*provavelmente só
Blondie, fica alerta, ouvi dizer que a Associação Portuguesa de Cabeleiros já contratou uns hackers para inutilizar os nossos blogs ;)
É verdade, os produtos... até ja me contaram que os dealers aprenderam assim a fidelizar clientes.
Atenção que, como sugere a Catarina, há boas e más cabeleireiras.
ehehehe temo que isso possa acontecer, mas comigo podem estar descansados, porque eu, sem querer, já boicoto o meu próprio blog, sempre que mexo nos códigos xpto:)
Esqueci-me de referir há pouco... achei deliciosa a tua história sobre as tuas evoluções no penteado,principalmente a parte em que te cortaram o cabelo à "panque" :))
Esta crónica está linda!
Do melhor que li nos ultimos tempos
Obrigado pelas tuas palavras Paolo.
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